sexta-feira, 15 de abril de 2011

Encantarias evita armadilhas do indianismo

Sabe aquele índio tão idealizado na literatura brasileira, que se não é forte e puro, é frágil e dependente do homem branco? Estes estereótipos indianistas ainda são disseminados na contemporaneidade, até mesmo pelos quadrinhos. Mas os artistas do Estúdio Casa Velha, no Pará, extrapolaram tais clichês e criaram uma HQ especial, na qual os índios são os verdadeiros protagonistas.

Capa da HQ que rompeu com os estereótipos indígenas.
Foto: Divulgação
A edição Encantarias: a lenda da noite, lançada em 2006, aborda a mitologia indígena, que é narrada pelo personagem “Velho das Histórias” às crianças de uma tribo contemporânea. As lendas são junções da cultura tupiniquim e da cultura europeia – a lenda do surgimento da noite, por exemplo, tem muitas influências do mito grego de Pandora. Nela, o deus Tupã decide libertar a escuridão no mundo, então encarrega três jovens guerreiros para isso: Piatã, Ubirajara e Kuandu. Juntos, eles encontram um artefato poderoso, o vaso Karupyky, que guarda os segredos sombrios do universo. Então, ao abrí-lo, os jovens deixam a noite escapar e tomar o mundo.
Como Encantarias se passa na atualidade, os nativos falam português com sotaque nortista e misturam peças de roupas aos adornos típicos da tribo. No que concerne aos desenhos, a HQ abusou dos recursos de diversos países: a ação provém dos mangás japoneses, o grafismo foi inspirado nos quadrinhos da França, enquanto a diagramação e a beleza das índias remetem às produções dos EUA. Esse mix de técnicas originou páginas verdadeiramente belas e que merecem ser observadas nos mínimos detalhes.
Em Encantarias, os acessórios tribais misturam-se às roupas comuns.
Foto: Divulgação
As personagens femininas de Encantarias não perdem em nada
para outras beldades da HQ.
Foto: Divulgação

Um comentário:

  1. Texto muito bom. Eu só questiono essa mistura de culturas. Não seria uma diluição da cultura indígena?

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