Uma menina quase cinquentona

Mafalda completou 49 anos agora, em 2011. Só que essa idade é bastante questionada, já que a personagem foi criada no dia 15 de março de 1962, para uma propaganda da marca Mansfield, de eletrodomésticos – o que também originou seu nome, pois a empresa encomendou um mascote cujo nome começasse com a letra “M”, a fim de criar identificação com a própria marca. Só que Mafalda realmente “ganhou vida” no dia 29 de setembro de 1964, ou seja, virou quadrinho e foi parar nas páginas de jornais como Siete Días Ilustrados, Primeira Plana e El Mundo – por isso, parte de seus fãs consideram que ela ainda vai fazer 47 anos em setembro.

Todos os personagens que compõem a turma de Mafalda.

Essa menina transformou-se em uma das personagem mais críticas de sua época, contradizendo sua origem fundamentada no consumo. Nos dois primeiros anos ela alfinetou o governo de Arturo Íllia, então presidente da Argentina. Mas seu criador, Quino, nem imaginava que o pior ainda estava por vir. Em junho de 1966, foi instaurada uma ditadura no país, autodenominada Revolução Argentina, na qual o general Juan Carlos Onganía se apossou do governo e estabeleceu medidas repressivas, como a dissolução dos partidos políticos, censura, controle violento das universidades, etc. A ditadura de 66, apesar de ser considerada mais branda do que a de 1976, teve sérias consequências, como o Cordobazo, e não escapou ao olhar atento de Quino que, paulatinamente, retratou este período em suas tirinhas.

Todavia, Mafalda não se ateve apenas a seu país – ela também refletia e questionava sobre os problemas mundiais em geral. Sua preocupação, por exemplo, com a bipolaridade então vigente e, consequentemente, com as armas nucleares ficam evidentes em diversas tiras. São abordados ainda outros temas: consumismo, liberdade, cidadania, feminismo, classes sociais, alienação, etc.

Tira que representa as preocupações de Mafalda com o mundo.

Em 1973, com a volta do populista Juan Péron ao poder, Mafalda deixou de ser publicada. Segundo Quino, a personagem já havia cumprido sua missão e esgotado suas possibilidades – na época, o cartunista afirmou que se continuasse a publicação, a pequena teria que presenciar fatos que não suportaria. Ele voltou a desenhá-la poucas vezes, como na campanha para divulgar a Declaração dos Direitos das Crianças, realizada em 1977. Mafalda ainda ganhou versões em desenho animado – este ano, a DreamLand Filmes lançou no Brasil dois volumes em DVD, que contaram com a aprovação e a colaboração de Quino.